Cotia, 1 de maio de 2013.
"A escola, como se apresenta atualmente, é uma antítese da vida. Deve ser
repensada, abdicando do seu papel predominantemente informativo. A falta
de oportunidade de intercâmbio leva à subordinação emocional e intelectual,
preparando o indivíduo, no plano político, para a ditadura e, no plano intelectual,
para o argumento da autoridade. Sociologicamente, leva a comunidade
ao imobilismo, por falta de oportunidade de criação e reestruturação de fatos."
Lauro de Oliveira Lima
Prezados amigos ,
Muitos pensamentos nos povoam nesses dois anos em que, decididos a atender a criança por inteiro, nos tornamos também uma escola. Um deles é a constatação de que a escola tradicional é um espaço que privilegia o não aprendizado do mundo e da vida. Pois este tipo de escola tira as crianças do mundo, da realidade onde vivem e as confina num prédio, numa sala fechada, por vezes com grades, e lá dentro um professor dá aulas de 50 minutos sobre assuntos que, na maioria das vezes, não servem para a vida e para o mundo.
Aqui ao lado do Projeto Âncora existe uma comunidade que é atravessada por um córrego. A área é constantemente inundada e quase sempre as famílias perdem tudo de material que possuem. As crianças que moram nessa comunidade frequentam a escola tradicional que as faz decorar os afluentes do Rio Amazonas, tanto os do lado esquerdo, quanto os do direito, mas não as faz aprender, refletir, descobrir sobre o córrego vizinho e as razões do que acontece com suas casas e suas vidas.
A escola tem mantido a sociedade afastada dos problemas do dia a dia, de suas razões e longe das soluções que poderiam ser construídas em conjunto. As crianças aprendem a tabela periódica, mas não aprendem a fazer arroz; aprendem sobre a corrente sanguínea, mas não sobre como curar uma ferida; aprendem sobre os ventos e as marés, mas não têm a menor ideia do que fazer numa situação de catástrofe.
Depois reclamamos que o mundo está de mal a pior quando jovens atropelam ciclistas, quando funcionários públicos roubam a merenda escolar ou empresários fazem sorvete com leite destinado a famílias sem renda. Não estamos aprendendo a viver e a conviver, a ser honestos e respeitosos, a ser solidários e responsáveis.
Temos que sair do confinamento da sala de aula e da tutela de um professor. O papel do professor, tão desvalorizado e mal remunerado, precisa tomar a sua verdadeira dimensão. Não aquele que dá as respostas, mas o que faz as perguntas certas e que aguça a curiosidade natural da criança. A criança precisa aprender com o mundo, na prática, na sua comunidade, com todos os recursos disponíveis, com a experiência dos mais velhos, com seus colegas. E toda a sabedoria construída pelo ser humano está hoje na tela do computador.
O Projeto Âncora dará início neste ano, apoiado pela Petrobras, ao trabalho em comunidades de aprendizagem. Sairemos do espaço do Âncora e vamos aprender com o mundo e toda a riqueza e problemas que ele contém. Só assim encontraremos solução para esse mundo e a vida das pessoas, sem esperar que alguém faça por nós, mas em comunidade de gente que junto pode construir uma sociedade e um mundo melhor.
Sempre gratos por você fazer parte ativa dessa nossa comunidade,
Regina Machado Steurer
Conselheira Projeto Âncora
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