quinta-feira, 13 de novembro de 2014


O livro Aprender em Comunidade do Professor José Pacheco, nosso conselheiro, foi lançado na Bienal do Livro 2014, pela edições SM.  "Ao redigir 25 cartas, escritas no Brasil e para figuras que marcaram este país, o professor tem uma intenção clara – recordar aos educadores do presente que não podem ignorar o patrimônio de ideias e experiências do passado. Deste modo,
inscreve as suas próprias propostas educativas no tempo longo da História, evitando cair em
modas ou novidades, sempre inúteis, sempre passageiras. Uma pergunta atravessa todas as
missivas: porque é que falhamos? Por que razão não conseguimos pôr em prática os nossos
ideais?
Nise da Silveira
A pergunta é dura, inquieta-nos, desassossega-nos, mas tem de ser feita.
A adoção do gênero epistolar é muito interessante. Permite-lhe criar uma intimidade
ficcional com autores falecidos e, por esta via, aproximar-se do leitor, torná-lo cúmplice das
cartas que escreve. Define, assim, um espaço de jogo, entre ele, os autores e os leitores,
chamando, uns e outros, para uma conversa sobre os caminhos e descaminhos da escola. O
exercício é feito com uma sensibilidade particular e convida cada leitor a assumir a sua própria
responsabilidade pelas coisas da educação.

Lauro de Oliveira Lima

As cartas adaptam, invariavelmente, uma mesma estrutura: primeiro, a crítica, a
indignação, a injustiça que cometemos ao não reconhecer um determinado legado; depois, a
abertura, a esperança, a crença em novas possibilidades; no fim, um breve apontamento
biográfico sobre o destinatário da carta. José Pacheco não nos fecha numa inevitabilidade,
num discurso de lamentações resignadas, mas também não se deixa vencer pela ingenuidade
ou pelas ilusões. Ao pôr-nos diante dos problemas, abre-nos portas, convida-nos a entrar e
a descobrir que a Escola não tem de ser sinônimo do modelo escolar inventado na segunda
metade do século XIX e que perdura até aos dias de hoje. ".  (Antônio Nóvoa)



Florestan Fernades
Para finalizar, uma inspiração do eterno Drummond que nos faz ver que escola é parte inseparável do desenvolvimento social na construção de cidadãos pensantes e ativos.


Eu queria uma escola que cultivasse a curiosidade de aprender 
que é em vocês natural.
Eu queria uma escola que educasse seu corpo e seus movimentos: que 
possibilitasse seu crescimento físico e sadio. Normal.
Eu queria uma escola que lhes ensinasse tudo sobre a natureza, o ar, a 
matéria, as plantas, os animais, seu próprio corpo. Deus.
Mas que ensinasse primeiro pela observação, pela descoberta, pela 
experimentação.
E que dessas coisas lhes ensinasse não só o conhecer, como também a 
aceitar, a amar e preservar.
Eu queria uma escola que lhes ensinasse tudo sobre a nossa história
e a nossa terra de uma maneira viva e atraente.
Eu queria uma escola que lhes ensinasse a usarem bem a nossa língua, 
a pensarem e a se expressarem com clareza.
Eu queria uma escola que lhes ensinassem a pensar, a raciocinar, 
a procurar soluções.
Eu queria uma escola que desde cedo usasse materiais concretos 
para que vocês pudessem ir formando corretamente
os conceitos matemáticos, os conceitos de números, as operações...
pedrinhas... só porcariinhas!
... fazendo vocês aprenderem brincando...
Oh! meu Deus!
Deus que livre vocês de uma escola em que tenham que copiar pontos.
Deus que livre vocês de decorar sem entender, nomes, datas, fatos...
Deus que livre vocês de aceitarem conhecimentos "prontos",
mediocremente embalados nos livros didáticos descartáveis.
Deus que livre vocês de ficarem passivos, 
ouvindo e repetindo, repetindo, repetindo...
Eu também queria uma escola que ensinasse a conviver,
a cooperar, a respeitar, a esperar, 
a saber viverem em comunidade, em união.
Que vocês aprendessem a transformar e criar.
Que lhes desse múltiplos meios de vocês expressarem 
cada sentimento, cada drama, cada emoção.
Ah! E antes que eu me esqueça: Deus que livre vocês
de um professor incompetente. 
(Carlos Drummond de Andrade)

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