Cotia, 1º de fevereiro de 2016
Caros amigos,
NEM CÉU NEM INFERNO
Litoral e sertão, alfabeto e fala, mercado e escambo, Estado e
sociedade, externo e interno, céu e inferno são partes de uma totalidade e não
opostos inconciliáveis, nos diz Jorge Caldeira, escritor e cientista político,
em seu livro Nem céu nem inferno - ensaios para uma visão renovada da história
do Brasil.
O autor desafia vários consensos a respeito do passado
brasileiro e abre um conjunto de novos caminhos para se entender o país.
O primeiro capítulo, em especial, nos chama atenção ao abordar a
teoria do valor de um ancião tupinambá na década de 1550 se contrapondo aos
europeus e sua intensa atividade econômica de extração do pau-brasil. Para o
velho tupinambá, o grande axioma da economia era a preservação dos bens da
Terra, capaz de guardar como ninguém os tesouros para alimentar e nutrir as
gerações futuras.
A preservação era o objetivo maior da atividade e o ato de
acumular sem necessidade aparece, ao índio, como insano, contrário à razão -
daí sua classificação dos europeus como "grandes loucos", que
passariam o tempo saqueando a felicidade de seus descendentes.
Na história, raras vezes as ideias do outro, do colonizado,
despossuído, explorado aparece nos livros, muito menos num tema complicado como
economia. Não conhecer o modo diverso do outro ver as coisas, não respeitar e
considerar esse modo é certamente uma enorme burrice e causa de muitos males
históricos.
Será que aprenderemos um dia a lição?
Escutaremos as crianças, os jovens, os pais e a comunidade que
usam as escolas, consideraremos a sabedoria existente em cada um desses seres?
Faremos o mesmo nas empresas, na política, na família?
Hoje temos assistido no Brasil uma postura maniqueísta que nos
divide entre prós e contras alguém ou alguma coisa. Como se as diferentes
posturas ocupassem opostos inconciliáveis e não fizessem parte de um todo
complexo e rico. Que pena não ouvirmos, considerarmos e respeitarmos as
diferenças e os diferentes pontos de vista, sem os quais não poderemos nunca
ser a democracia e o país sonhado.
Que nesse 2016 escutemos especialmente as crianças e os jovens!
Grande e fraterno abraço.
Regina Machado Steurer
Conselheira Projeto Âncora
Nenhum comentário:
Postar um comentário